BEZERRO DE OURO: A dinâmica no processo da Vida Interior.

Moisés subiu ao monte para estar com Deus e o povo ficou na planície a esperar por seu retorno, contudo Moisés começou a demora-se demasiadamente, o que gerou uma certa ansiedade no Povo Escolhido, foram atrás de Arão e disseram :" Olha, faze-­nos um deus para que nos conduza porque esse Moisés que nos trouxe até aqui desde o Egito desapareceu, não sabemos dele; alguma coisa lhe deve ter acontecido( Ex. 32,3). Arão pediu os ouros que tinham e fez um bezerro para que o adorassem.

Ora, como Arão alguém próximo a Moisés foi tão infiel? Ele nem questionou o povo para tentar democraticamente negociar um tempo a mais de espera, o que nos leva a pensar que ele também tinha seus interesses. A falta de convicção e postura podem ser sinal de interesses ocultos que só se revelam mediante atitudes.

Mas o que neste texto precisa-se ser encarnado é a questão de mesmo tendo sido libertos da escravidão do Egito, estarem no processo de conversão pelo deserto, no momento que se sentem um pouco sozinhos sem Moisés por perto, os desejos de serem escravos os assalta e a solidão que é originariamente própria do ser humano, como fala o São João Paulo II na Catequese Teologia do Corpo "A Solidão Originária" -nascemos sozinhos e morreremos sozinhos. Eles procuram por um deus o qual pudessem adorar, colocar suas esperanças, depositar suas carências e não sentirem-se mais só.

Quando a solidão nos assalta não é momento de nos desesperarmos a procura de bezerros de ouros, com pessoas para curar nossas carências afetivas ou coisas que ilusoriamente podem preencher o vazio que emerge. A solidão é originária e necessária a constituição do homem, é nesses momentos que indagamos a nossa verdade diante da realidade que vivemos. Quem não pratica a reflexão interior e a contemplação do presente jamais vai compreender o passado e vislumbrar o futuro que pode vir e que estais a construir. A fuga para subterfúgios que ocupem o tempo e a mente sem conteúdo nenhum é uma praga viral, vejam os celulares que ocupam o tempo disponível da fila no banco, espera no consultório médico, horário de ônibus, almoço, convívio familiar e círculos de amizades, até no banheiro não se vai mais desacompanhado do telefone. É um vício de distração da mente sem objetivo concreto ou acréscimo humano, apenas aumentamos mais o grau da lente dos óculos e as doenças de articulação nos dedos. Programas de TV que falam nada de nada, mostram enredos de personagens criados, muitas vezes com objetivos ocultos de inculturar certa mentalidade e começamos a viver a ficção de personagens dando uma pausa na vida real.

A legitimação da realidade pelo Social como explica J.B. Libânio[1], no tipo Teórica- Incipiente, se faz através de slogans, símbolos, propagandas, imagens, vídeos e etc. O que vemos hoje ou melhor assistimos, porque diante de uma TV somos meros espectadores passivos que aceitam a proposta da mensagens que são transmitidas ocultamente com imagens, músicas, pessoas, lugares, coisas bonitas que aludem ao que é proposto como algo bonito também. Ou seja, como explica J. B. Libânio,mesmo não sendo aprovados pela legitimação ÉTICA, podem ser aprovados pela legitimação SOCIAL. Estando tantas vezes embrulhado numa estampa ou rosto bonitos.

Cuidado com o tempo de solidão para não perder a "OPORTUNIDADE" de encontrar-se consigo mesmo e desbravar a terra prometida do conhecimento de si em Deus. Cuidado com os bezerros construídos com os ouros de posses para fugir de si e de seus problemas que precisam ser vividos, as distrações sem consciência crítica podem produzir verdades fora da moral ética cristã, nossa fé. Aguarde Moisés voltar da montanha as tábuas da lei estão em suas mãos, não atropele o tempo de Deus!

[1] João Batista Libânio - Formação da consciência crítica - Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=O9jOuoPw1Fk